A porta encostada aguardava a tua chegada. Uma mão
encostada sobre a madeira polida e a porta abriu-se lentamente sob a batuta de
suaves gemidos. Trocam-se palavras de circunstância e servem-se as bebidas nos
copos de pé alto. Duas pedras de gelo e raspas de limão. Servem-se paladares
intensos e olhares corrosivos.
Apagam-se as luzes, acendem-se as velas e tomam-se os lugares frente a frente
como se de um jogo de tabuleiro se tratasse. Sentados no negro sofá ajeitamos
as almofadas da cor do sangue, aquele que jurámos não derramar. O silêncio é
entrecortado pelo cheiro da canela e pelos acordes tensos de uma música de
fundo, humedecem-se os lábios e soltam-se as amarras às palavras.
Escolhem-se as armas e sobrevive-se à torrente das palavras duras e ao limbo do
que nos une. Um trago a mais da bebida oferecida, o perdão e a ausência, a
culpa e o querer mais sem saber o que mais querer. Gelo apenas para acompanhar.
Esgrimem-se argumentos e silêncios na dualidade do encontro da acusação e da omissão
com a raiva.
Um cálice a mais oferecido pelas tuas mãos na despedida. Veneno puro. Sem
sabores para disfarçar. A porta a fechar. O som seco na aridez do adeus. Passos
que se afastam no corredor. Sucumbir apenas depois,
nunca à tua frente.
Mais um belo trabalho!Intenso,dramático,sofrido...gostei muito
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