segunda-feira, 18 de junho de 2012

Veneno

A porta encostada aguardava a tua chegada. Uma mão encostada sobre a madeira polida e a porta abriu-se lentamente sob a batuta de suaves gemidos. Trocam-se palavras de circunstância e servem-se as bebidas nos copos de pé alto. Duas pedras de gelo e raspas de limão. Servem-se paladares intensos e olhares corrosivos.
Apagam-se as luzes, acendem-se as velas e tomam-se os lugares frente a frente como se de um jogo de tabuleiro se tratasse. Sentados no negro sofá ajeitamos as almofadas da cor do sangue, aquele que jurámos não derramar. O silêncio é entrecortado pelo cheiro da canela e pelos acordes tensos de uma música de fundo, humedecem-se os lábios e soltam-se as amarras às palavras.
Escolhem-se as armas e sobrevive-se à torrente das palavras duras e ao limbo do que nos une. Um trago a mais da bebida oferecida, o perdão e a ausência, a culpa e o querer mais sem saber o que mais querer. Gelo apenas para acompanhar. Esgrimem-se argumentos e silêncios na dualidade do encontro da acusação e da omissão com a raiva.
Um cálice a mais oferecido pelas tuas mãos na despedida. Veneno puro. Sem sabores para disfarçar. A porta a fechar. O som seco na aridez do adeus. Passos que se afastam no corredor.
Sucumbir apenas depois, nunca à tua frente.

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