terça-feira, 19 de junho de 2012

Malmequer


Naquela manhã de sol orvalhado deixei-me levar pelo assobio do vento e pela corrente do riacho, e a força do destino embrenhou-me no verde denso, fresco e luminoso.
Os cabelos esvoaçavam ao sabor da brisa que levemente me empurrava, fazendo-me andar devagar pela verdura. O verde, aquele verde que me prendia. E aqueles salpicos de cor aqui e ali que teimavam em deixar-me tonta de emoção.
Descalça, quase nua, leve, sem medo nem preconceito. Era só eu, sem mais nada nem mais ninguém.
Um malmequer branco, molhado. Colhi-o e admirei aquela fragilidade fresca que sempre, sempre me fazia perceber como era feia e imperfeita. As pétalas brancas oscilavam com o vento leve. Olhei o céu e, de repente, tu. Em todo o lado, tu, ofuscando-me ainda mais que o sol. Arranquei uma pétala.


Mal-me-quer.
Doeu só de pensar que pudesse ser verdade. O coração apertou-se contra o peito de repente e senti o ar a fugir-me, as lágrimas a chegar. Arranquei rapidamente a pétala seguinte.

Bem-me-quer.
Leve, de repente. O coração deleitou-se com as iamgens de nós os dois, sozinhos sem pudores. Respirei melhor, tremi de emoção, de entusiasmo. Com um pouco de imaginação, ter-te-ia sentido, quase te teria beijado, mas a próxima pétala esperava.

Mal-me-quer.
Negro outra vez. Não! Quereres o meu mal, ou simplesmente não me quereres.... Não, não! Morreria...

Bem-me-quer.
Será que me queres?
Mal-me-quer.
Ou será que não?
Bem-me-quer.
Ama-me...
Mal-me-quer.
Por favor.
Bem-me-quer.
Já quase não há pétalas...
Mal-me-quer.
O que será que me espera no futuro?

Bem-me-quer. Mal-me-quer. Bem-me-quer. Mal-me-quer. Bem-me-quer.
E a última. Mal-me-quer.
Perdi as forças, caí no chão e chorei. Respirava devagar e no silêncio do infinito verde deixei as lágrimas deslizar, sem pressa. Mal-me-quer. Nada mais.

2 comentários:

  1. Gosto....É bom poder apreciar devagar a tua escrita!

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  2. Excelente "travão". Feito com alma, para se ler com calma. Muito bem.

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