domingo, 15 de julho de 2012

A cinza das minhas horas

O tempo passou incólume... o fogo, outrora fúria incontida, lentamente, acabou por perder toda a sua intensidade! Até as chamas clamaram pelas cinzas em breves metamorfoses. Porque ontem fui chama acesa em mim e hoje recriei-me nas cinzas dos afectos e das palavras. As horas passaram... as questões multiplicaram-se, e as dúvidas, essas há muito que destilaram angústia e hoje são cálices de redenção. Abriram-se as portas do ser e da chama nasceu a cinza que dará lugar a novas chamas, em ciclos perpétuos de fogo, que emanam da minha vontade transcendente! Porque saberás onde me encontrar. Porque, se vieres à minha procura, saberás sempre onde me encontrar. Vem até mim, se souberes as respostas! Esta foi a cinza das horas.... Esta é a cinza das minhas horas.

domingo, 8 de julho de 2012

Vida e Morte


diz-me se
na água reconheces o rumor
adormecido nos búzios

diz-me se o Outono tem
a ver com as algas
com a incerteza das folhas

e se há um sentido oculto
no rodar das estações

diz-me se
toda a imagem é engano
ou filha enjeitada
do fogo

diz-me se é certo
que o tempo
é o único olhar
prolongado nos dias

diz-me se a vida é o avesso da vida
e se há morte

sábado, 7 de julho de 2012

Robot

O firmamento. Os meus olhos fixos nele não me deixam olhar para mais nada. As pessoas cruzam-se comigo nos corredores das ruas, embatem-se, lutam entre si. Entre elas e eu existe apenas um pequeno espaço de ficção. A mera ilusão das vidas.
Deixo o céu e miro os olhares cruzados. Tento imaginar-me naquela pele, naquele corpo, a ter os mesmos pensamentos inoportunos... deixo-me levar pela fantasia e embarco com o vento nas muralhas do olhar.

Viver uma vida de outro alguém. Não é isso que tentamos fazer constantemente? Viver o que não somos, o que não fizemos, o que não temos. Viver segundo o que os outros pretendem que sejamos. Viver perante o que a Sociedade espera de nós. Viver hipocritamente. Não viver, é sobreviver.
Opto por continuar a olhar para o Paraíso. Sorrindo. Escuto uma melodia qualquer que me faz perder na imaginação outra vez. E sonho com a pureza e honestidade de olhares. Apago da memória o cinismo do dia-a-dia. Primo o botão delete e esqueço que aqueles olhares inexpressivos são apenas o espelho das máquinas em que nos tornámos.

Sentir... não é permitido ao Robot sentir!

Asas

Abre as asas
(se pensas em voar)
Abre esses braços musculados
(se pensas que a força domina)
Abre, abre as fronteiras do medo
(o mesmo medo de que foges)
Abre tudo o que pensas
(só assim serás tu mesmo)
Abre, abre os olhos!

Fecha as asas
(nunca voarás sozinho)
Fecha os braços
(que pela força também morres)
Fecha, fecha os medos
(que de ti te escondes)
Fecha tudo...