-
Porque nunca dizes que me amas? Diz-me a verdade… Amas-me realmente?
-
Mas duvidas??? Como podes duvidar de algo que te provo todos os dias?
-
Porque não mo dizes, não mo espelhas em palavras!
-
Quem disse que as palavras são a maior prova de amor que existe?
- Eu
só sei sentir em palavras, eu preciso de respirar palavras. Comer palavras!
- Eu
nunca fui bom com as palavras e tu sabes isso… Eu não me embrenho nessa maldita
poesia que te inunda e te afasta de mim para mundos que não são meus, que não
conheço e que invejo… Não compreendes? Que esse mundo só teu é um segredo, um
pedaço escabroso de ti, que eu não consigo conhecer, por muito que me esforce?
-
Mas eu abri-te a minha poesia…
- Eu
abomino poesia! Tu sabias isso quando aceitaste ficar comigo! A escrita
repele-me, não entendo o que encontras nessa maldita que não vês em mim… Eu
amo-te! Eu sou real! Eu estou aqui e sou carnal e palpável. Não sou um dos teus
personagens incompletos.
- Os
meus personagens são partes de mim tal como eu sou parte deles. Lamento que não
consigas entender isso…
- Tu
pressionas-me a dizer-te coisas que eu não te sei dizer.
-
Então como posso saber que as sentes?
-
Não lês no meu olhar?!
-
Não sei ler olhares. Não me peças para ler olhares! Os olhares enganam,
deturpam. Eu vejo sempre verde nos olhos mais escuros.
- …
-
Não ergas muros de silêncio à nossa volta! Eu lutei tanto para construir este
equilíbrio precário que nos envolve, não o derrubes, agora, com essa
facilidade!
-
Equilíbrio??? Tu chamas a isto equilíbrio? Daqui a pouco vais dizer que eu não
sou ciumento e que isso te faz sentir desconfortável. Fico a pensar que por
muito que me esforce nunca te chega!
-
Mas é estranho! Eu queria que ao menos por vezes olhasses para mim com ar de
quem me quer devorar com medo de me perder. Toda a gente que ama sente medo de
perder alguma vez na vida.
- E
isso é alguma regra universal?
-
Não… Nunca disse que era!
-
Esta conversa deixa-me esgotado. Estamos sempre a falar do mesmo.
-
Estamos porque nunca se resolve!
-
Porque eu não compreendo a tua necessidade de palavras! Eu dou-te afecto ou
não…?
-
Sim. Mas eu preciso de mais. Mais carinho. Mais atenção. Eu tenho medo!
- De
quê? De ser feliz?
-
Sim… De ser feliz. Eu não nasci para ser feliz!
-
Não digas disparates…!
-
Não são disparates, são os meus sentimentos! Não me quero agarrar a alguém que
me
pode
abandonar a qualquer momento!
- Eu
gostava de ser como os teus amigos poetas mas não sou. Queria dizer-te aquelas
palavras românticas mas não consigo!
- Queria
apenas que dissesses que sentes saudades minhas. É assim tão difícil?
-
Para mim é…
-
Então o que fazemos juntos?
-
Aprendemos a amar.
-
Sem palavras?
-
Sem palavras…
Embebedo-me nas tuas palavras e refresco-me no prolongamento do tempo!
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