segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sem palavras


- Porque nunca dizes que me amas? Diz-me a verdade… Amas-me realmente?
- Mas duvidas??? Como podes duvidar de algo que te provo todos os dias?


- Porque não mo dizes, não mo espelhas em palavras!
- Quem disse que as palavras são a maior prova de amor que existe?


- Eu só sei sentir em palavras, eu preciso de respirar palavras. Comer palavras!
- Eu nunca fui bom com as palavras e tu sabes isso… Eu não me embrenho nessa maldita poesia que te inunda e te afasta de mim para mundos que não são meus, que não conheço e que invejo… Não compreendes? Que esse mundo só teu é um segredo, um pedaço escabroso de ti, que eu não consigo conhecer, por muito que me esforce?


- Mas eu abri-te a minha poesia…
- Eu abomino poesia! Tu sabias isso quando aceitaste ficar comigo! A escrita repele-me, não entendo o que encontras nessa maldita que não vês em mim… Eu amo-te! Eu sou real! Eu estou aqui e sou carnal e palpável. Não sou um dos teus personagens incompletos.


- Os meus personagens são partes de mim tal como eu sou parte deles. Lamento que não consigas entender isso…
- Tu pressionas-me a dizer-te coisas que eu não te sei dizer.


- Então como posso saber que as sentes?
- Não lês no meu olhar?!


- Não sei ler olhares. Não me peças para ler olhares! Os olhares enganam, deturpam. Eu vejo sempre verde nos olhos mais escuros.
- …


- Não ergas muros de silêncio à nossa volta! Eu lutei tanto para construir este equilíbrio precário que nos envolve, não o derrubes, agora, com essa facilidade!
- Equilíbrio??? Tu chamas a isto equilíbrio? Daqui a pouco vais dizer que eu não sou ciumento e que isso te faz sentir desconfortável. Fico a pensar que por muito que me esforce nunca te chega!


- Mas é estranho! Eu queria que ao menos por vezes olhasses para mim com ar de quem me quer devorar com medo de me perder. Toda a gente que ama sente medo de perder alguma vez na vida.
- E isso é alguma regra universal?


- Não… Nunca disse que era!
- Esta conversa deixa-me esgotado. Estamos sempre a falar do mesmo.


- Estamos porque nunca se resolve!
- Porque eu não compreendo a tua necessidade de palavras! Eu dou-te afecto ou não…?


- Sim. Mas eu preciso de mais. Mais carinho. Mais atenção. Eu tenho medo!
- De quê? De ser feliz?


- Sim… De ser feliz. Eu não nasci para ser feliz!
- Não digas disparates…!


- Não são disparates, são os meus sentimentos! Não me quero agarrar a alguém que me
pode abandonar a qualquer momento!
- Eu gostava de ser como os teus amigos poetas mas não sou. Queria dizer-te aquelas palavras românticas mas não consigo!


- Queria apenas que dissesses que sentes saudades minhas. É assim tão difícil?
- Para mim é…


- Então o que fazemos juntos?
- Aprendemos a amar.


- Sem palavras?
- Sem palavras…

1 comentário:

  1. Embebedo-me nas tuas palavras e refresco-me no prolongamento do tempo!

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