terça-feira, 19 de junho de 2012

"Perdão"


Regresso ao quarto. Retorno ao espaço que outrora me atormentava e protegia. Retorno ao lugar que se resumia à minha vida. Sou recebida como se eu nunca houvera partido, contudo sinto-me uma estranha.
Dirijo-me à janela. Oiço um ruído atrás de mim. O som da porta do cárcere a fechar. Alguém a fechou. Volto-me e revejo-me. Sinto-me visitada por mim mesma. Como se me pudesse ver após ter saído do meu corpo.
O seu olhar é gélido. O seu olhar é reprovador. O seu olhar que afinal é o meu olhar... No violento silêncio das suas palavras, desvendo uma pergunta:
- Agora que regressaste porque partiste?
A perturbação condiciona-me e não consigo responder. Nem eu própria conheço a resposta. Passados breves segundos respondo:
-Regressei! Apenas sei que regressei.
Sem proferir qualquer palavra, o diálogo flui:
-"Quem parte de um lugar tão pequeno, mesmo que volte, nunca retorna."
-Alguma vez me perdoarás por ter partido?- questiono.
Assinado o armistício, ela devolve-me a pergunta:
-De que adianta perdoar se não somos capazes de esquecer?
Sinto-me desprotegida perante mim própria. Ela vira-me a costas e dirige-se para a porta. Sem me olhar nos olhos continua:
-Perdoar é só um código fonético. Nada mais do que isso. Perdoar é somente uma qualquer palavra. Como todas as outras. Vazia.
Remeto-me ao silêncio. Antes de fechar a porta profere em tom de despedida:
-Perdoar-te-ei se tu o conseguires fazer.
Ouço a porta a fechar-se. A porta está novamente fechada
.

Sem comentários:

Enviar um comentário